quinta-feira, 13 de abril de 2017

“Les demoiselles d’Avignon” (1907), de Pablo Picasso, na interpretação de Melinda Garcia.

demoiselles

- “Holomovimento: Espelho d’Alma ”(Do livro de Melinda Garcia)
No avanço das pesquisas, no mau uso em direção à fragmentação, da fissão nuclear criou-se a bomba atômica; o homem apoderando-se da energia fundamental para a destruição sem precedentes.
A Arte, antecipando a revolução cientifica, fez o mesmo na pessoa de Picasso. De forma revolucionária e precursora, Picasso fragmentou a imagem, criando a importante obra que inicia o movimento cubista. Após realizar centenas de estudos através das imagens em “cubos”, o artista transcende a própria materialidade para atingir o resultado final, decantar sua imaterialidade! Compreenderemos isto, se aplicarmos à tela, sua máxima: “Cada objeto que toco se revitaliza e se torna a encarnação do meu drama interior”. Esta declaração nos autoriza a afirmar que a tela Les demoiselles d’Avignon é uma projeção inconsciente que reproduz, numa configuração fragmentada, multifacetada e espelhada, o próprio Picasso, numa multiplicidade de auto-retratos do seu eu interior. Assim, as quatro donzelas simbolizam a transfiguração encarnada da psique do artista, uma projeção das quatro faces da sua alma ou anima. No dizer de Jung, a anima é quaternária, são quatro os estágios de sua evolução (“entende-se por anima, os aspectos femininos da psique masculina: as intuições proféticas, a capacidade de amar e o relacionamento com o inconsciente”, Jung sinaliza). “Les demoiselles d’Avignon” (19O7)
Uma vez que o artista está preso em sua própria obra – como foi revelado pela mitologia – Picasso revitaliza as máscaras africanas com as quais se travestiu, como a inspiração ideal para transfiguração da sua própria irracionalidade. Nesta manifestação, lançou mão das máscaras para dominar o caráter irracional e animal dos instintos internos que o artista, neste exercício espelhado de seu drama interior, exorciza e transcende. Lembremos a psicologia de Wilhelm Reich: “a imagem do instinto que surge, quando no tratamento das análises de caráter, é sempre revestida por algum animal ou monstro”. O instinto humano é por si só animal! Contudo, comparemos a figura central ao seu Auto-retrato, pintado na mesma época onde.a semelhança é evidente. É na quinta figura central da tela, que a imagem de Picasso aparece com força total, pois domina a forma ideal: totalidade quintessenciada. No quadro Les Demoiselles…a comunhão com a alma é restabelecida, realiza-se o casamento masculino x feminino como caráter complementar da experiência entre o profano e o sagrado. As frutas presentes, no-lo indicam, pois simbolizam a maturidade e, por sua forma esférica, a totalidade. Picasso, dizia: “pintar é libertar-se”. Partindo da fragmentação, criou união; no arremate dos seus processos, atingiu a síntese, tornando-se uma dimensão unificada e fundando um novo movimento, o Cubismo.
(Do livro de Melinda Garcia- “Holomovimento: Espelho d’Alma ” 2001.)

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